Sem querer me intrometer | Mariana Baptista

Resenha: O Livro dos Viloes | Varios Autores



Título: O Livro dos Vilões
Autores: Cecily von Ziegesar, Carina Rissi, Diana Peterfreund, Fábio Yabu
Editora: Galera Record
Páginas: 320
Avaliação: ★★★ (5/5)




Organizado da mesma forma que ‘O Livro Das Princesas’ – também com o esquema de dois populares autores nacionais, e dois nomes famosos do exterior – ‘O Livro Dos Vilões’ reúne estes autores para uma coletânea de contos sobre vilões icônicos dos contos de fadas. As irmãs de Cinderela? Malévola? Madrastas e lobos? Carina Rissi, Cecily Von Ziegesar, Diana Peterfreund e Fábio Yabu estão aqui com a mensagem: este não é um livro tão bonzinho quanto o seu antecessor. Cecily Von Ziegesar é a popular autora das séries It Girl e Gossip Girl, esta última que inspirou o seriado na televisão. Diana Peterfreund é autora das séries Sociedade Secreta e Caçadora de Unicórnios. Carina Rissi é autora dos populares Procura-se um marido e Perdida, publicados pela editora Verus, que já venderam mais de 40 mil exemplares no Brasil. Fábio Yabu já publicou, pela Galera, seu livro A última princesa.

     Após o inegável sucesso que sucedeu o lançamento de O Livro das Princesas, em julho do ano passado (2013), a Galera Record investiu novamente em reunir estórias curtas de autores de sucesso nacionais e internacionais ― a fim de montar uma bela antologia temática de adaptações modernas de contos de fadas clássicos.

     O Livro dos Vilões é construído por quatro contos escritos por Cecily von Ziegesar (#stepsisters - Sobre Sapatos e Selfies), Carina Rissi (Menina Veneno), Diana Peterfreund (Quanto Mais Afiado o Espinho) e Fábio Yabu (A Menina e o Lobo). As estórias se baseiam cada uma em um conto clássico já conhecido por nós ― Cinderela, Branca de Neve e Os Sete Anões, A Bela Adormecida e Chapéuzinho Vermelho/Os Três Porquinhos, na respectiva ordem ―, porém focam-se em descrever as situações partindo do ponto de vista dos, considerados até então, “vilões” dessas tramas.

     O primeiro conto, #stepsisters - Sobre Sapatos e Selfies, nos apresenta à Dizzy e Nastia, irmãs gêmeas super populares e famosas entre os jovens por seu sucesso no Instagram. Na estória, conhecemos um pouco das preocupações de extrema futilidade das irmãs e, também, tomamos conhecimento acerca de algo na vida das duas que as irrita profundamente: sua meia-irmã, Cindy.

     A trama, baseada na estória de Cinderela, mostra um lado menos maligno das “irmãs más”. Na narrativa desenvolvida por Cecily, Dizzy e Nastia são muito egoístas e focadas apenas em seus próprios problemas  como, por exemplo, atrair a atenção do lindo e popular Manchild Kennedy ―, porém não possuem um nível maior de maldade do que o normalmente encontrado em adolescentes mimadas. Acredito que essa desconstrução de personagens seja o ponto alto do conto em questão.

― Vamos continuar bebendo ponche até não aguentar mais e depois vomitar tudo no lindo vestido branco dela ― disse Nastia (...).
 
― Eu estava pensando em algo mais cruel e permanente ― disse Dizzy (...). ― Podemos decepar os pés dela e roubar os sapatos. Pág. 31

     O segundo conto, baseado na estória da Branca de Neve, foca-se em Malvina, uma famosa modelo internacional que, com a morte do marido, Henrique Neves o qual ela nunca realmente amou ―, herda uma responsabilidade indesejada: cuidar de Bianca, sua enteada.

     Mais uma vez encontramos em Menina Veneno uma narrativa que cumpriu com o dever de desconstruir os personagens. Malvina, associada à madrasta má, mostra seu lado mais humano e demonstra que muitas de suas “maldades” são baseadas em seu egoísmo extremo. Porém, o mais interessante no conto de Carina Rissi é que Bianca ― que deveria ser a mocinha da estória ― se mostra tão fútil e, em certos momentos, detestável quanto a madrasta.

Você provavelmente já escutou essa história antes, mas com certeza não ouviu a verdadeira história. Não que eu possa culpá-lo por isso. A imprensa adora transformar alguém em vilão. Ou vilão, como é o caso. Pág. 57

     O terceiro conto, Quanto Mais Afiado o Espinho, é o meu favorito do livro. Apesar de sentir que a autora tentou abordar muitos temas complexos em uma estória tão curta ― dessa forma, falhando em aprofundar todos eles ―, adorei a inversão completa de papéis proposta por Diana Pererfreund.

     Na trama, conhecemos Malena, uma jovem “bruxa” que conquistou a pouco o sonho de começar a frequentar o ensino médio normalmente como os outros adolescentes de sua idade. Em sua fase de adaptação à nova rotina, a menina conhece Flo, Dawn e Marie que associam-se às três fadas madrinhas de Aurora, no conto original A Bela Adormecida ― e investe em uma amizade com elas. Porém, aos poucos, as novas amigas de Malena mostram que não podemos confiar tão facilmente nas pessoas e que, por trás dos sorrisos e elogios, muitas delas podem estar sendo muito falsas.

Então estou sozinha no corredor, onde minha esperança pode escapar pelas rachaduras do piso.
Pág. 198

     O último conto da antologia, A Menina e o Lobo, escrito por Fábio Yabu, é, na minha opinião, o mais crítico de O Livro dos Vilões. O autor conseguiu fundir diversos contos, focando-se principalmente naqueles em que o Lobo faz papel de vilão ― como Chapéuzinho Vermelho e Os Três Porquinhos ―, a fim de mostrar como uma estória pode inverter-se totalmente quando a vemos por outro ponto de vista.

     De uma forma bastante irônica ― fazendo, inclusive, a genial adoção do Narrador das estórias como um personagem ―, Yabu consegue fazer com que o leitor se desvincule totalmente da ideia de bem e mal pré-definida pelos contos originais.

"... e todos foram felizes para sempre."
Seis palavras que ecoavam tal qual uma canção satânica e pegajosa em sua mente. (...) Em toda a história dos Contos de Fadas, somente um personagem conseguira o feito de ser esquecido.
Págs. 225-227

     No geral, O Livro dos Vilões é uma leitura agradável e com vocabulário simples e atual. As estórias são contemporâneas e envolvem vários aspectos do nosso dia-a-dia, sem deixarem de fazer referências interessantíssimas aos contos de fadas originais. Além disso, os contos curtos ― menos de cem páginas cada ― dão dinamicidade à leitura. Super indicado aos fãs de adaptações.

2 comentários:

  1. Adorei, não sou muito fã dos vilões, mas conhecer um pouco o lado deles é bom, até porque adoro livros de contos de fatas contemporânios!!
    Mary, parabéns mais uma vez pela resenha, elas são ótima e ajuda bastante a ter uma idéia clara do livro!!!

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  2. Oláá´Mari
    faz tempo que não passo por aqui, mas como sempre, está muito lindo haha
    Amei sua resenha e infelizmente não li esse ainda e nem o das princesas, mas espero ler em breve e gostar bastante dos dois, afinal, só reúnem ótimos autores né?

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/2014/11/resenha-reiniciados-teri-terry.html

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