Sem querer me intrometer | Mariana Baptista

Resenha: Rockfeller | Alexandre Apolca



Título: Rockfeller
Autor: Alexandre Apolca
Editora: Nova Paris
Páginas: 182
Avaliação: ★★★★ (4/5)



Beto Rockfeller, que possui uma leve versão da síndrome da mão alheia, sonha em fazer sucesso com sua banda de rock. Após ser preso injustamente em um protesto na Avenida Paulista, é liberado e orientado a deixar São Paulo. Ele e sua desconhecida banda — cujos integrantes são: Yakult, Gringo e Santiago dos Santos — decidem se mudar para a mística São Thomé das Letras, a Machu Picchu brasileira. É exatamente nessa aconchegante cidadezinha mineira que começa uma trama estonteante e dinâmica — repleta de aventuras, romances, crimes e mistérios. Rockfeller se envolve com Anita Andrade, a namorada de um dos seus amigos. Esse triângulo amoroso é surpreendido com a súbita aparição de uma terrível enfermidade. Ele, desconcertado, se vê diante de uma difícil decisão, que mexe brutalmente com seus princípios morais e o pior, Rock pagará caro por sua indigesta decisão, seja ela qual for. Além disso, é obrigado a conviver com seus fantasmas, desilusões e psicoses e ainda tem de se acostumar com um enigmático corvo que o persegue. No entanto, após muito tempo, Rockfeller consegue uma segunda chance de ser feliz no Rio de Janeiro, as suas desventuras e psicoses ressurgem, e isso pode levá-lo a uma irreparável situação em que nem tudo que se vê pode ser real...

     Quando Alexandre Apolca entrou em contato com o Sem Querer me Intrometer nos oferecendo um exemplar de Rockfeller para resenha, aceitei sua oferta sem saber exatamente o que esperar. Até então, não havia muitos comentários sobre o romance espalhados pela blogosfera e a sinopse do livro pouco me ajudou a definir uma expectativa quanto ao gênero que encontraria pela frente.

     Ao iniciar a leitura, julgando pela capa que, apesar de achar lindíssima, não consigo associar tão bem à estória como gostaria ―, achei que encontraria uma trama densa de terror. Eu não estava completamente errada, mas o que encontrei em Rockfeller me surpreendeu muito por tratar-se de terror psicológico.

O tempo é a estrada que nos trouxe para vida e que, um dia, nos levará para a morte. O tempo é o papel no qual deixamos nossas marcas e, se forem bem marcadas, nunca se apagarão. (...) O tempo, ninguém nunca viu, mas todos sentem. Capítulo 22, pág. 101

     O livro ― narrado de uma forma autobiográfica conta a estória de Beto Rockfeller, um jovem e rebelde músico que sonha em ver sua banda e trabalho sendo reconhecido por todos os amantes de rock de sua época.

     Após envolver-se em uma manifestação política e, dessa forma, arrumar mais problemas com a polícia local, a família de Rock exige que ele se afaste de São Paulo a fim de evitar mais problemas. Diante disso, todo o restante da banda ― Yakult, Gringo e Santiago dos Santos resolve também abandonar a vida na grande cidade para aventurar-se em São Thomé das Letras também conhecida como a Machu Picchu brasileira.

     Chegando ao local de destino, Rockfeller encontra algo que jamais sentiu falta em sua vida regada a álcool, drogas e mulheres: um amor verdadeiro. E ao envolver-se com Anita Andrade que, até então, era namorada de um de seus amigos mais próximos ―, ele descobre que para zelar pela proteção daqueles que amamos, muitas vezes temos que nos meter em grandes encrencas que podem, inclusive, nos levar a perdê-los.

Sinceramente, eu não sabia o que sentia por Anita, não mesmo. Poderia ser amor, paixão, ou apenas entusiamo. Sempre fui mal nesse negócio de rotular sentimentos, até porque isso não tinha importância, o relevante não era dizer o que sentia, mas sentir. Capítulo 10, pág. 49

     Porém, mesmo com a ocorrência de várias adversidades e o passar dos anos, o destino de Beto e Anita parece teimar em se entrelaçar das formas mais irônicas possíveis. Os dois tem uma ligação forte que, na trama, faz com que os dois se reencontrem de uma maneira improvável e surpreendente (que, para manter a resenha livre de spoilers, sou impedida de entrar em detalhes).

     Com vocabulário e cenas impróprias para menores de idade, diversas referências à Edgar Allan Poe e uma narrativa realizada em primeira pessoa às vezes apresentada sob o efeito de drogas/álcool ―, Rockfeller acaba se tornando muito mais reflexivo e intenso do que eu imaginei que seria.

     Alexandre Apolca deu um golpe de mestre ao inserir-se na estória como um dos personagens e finalizá-la de um modo criativo e impecável que traz ao leitor uma prazerosa sensação de “Isso tudo é mesmo ficção?”.

     Com capítulos curtos e dinâmicos e um final surpreendente, o romance só deixa a desejar um pouco em sua revisão, tendo em vista que encontrei alguns erros gramaticais bem chatinhos e persistentes durante a leitura.

     Aos fãs das tramas intensas e com foco psicológico, garanto que Rockfeller é um livro que consegue tirar o sono até mesmo dos leitores mais resistentes. Indicadíssimo. 

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