Sem querer me intrometer | Mariana Baptista

Resenha: O Pagador de Promessas | Dias Gomes



Título: O Pagador de Promessas
Autor: Dias Gomes
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 176
Avaliação:  (4/5)



Dias Gomes narra nesta peça de renome internacional o emocionante calvário do simplório Zé-do-Burro: para cumprir promessa feira a Iansan, pela cura de seu burro, ele divide seu sítio com os lavradores pobres e carrega pesada cruz de madeira no percurso de sete léguas, com o objetivo de depositá- la no interior da igreja de Santa bárbara, em Salvador. Iansan se confunde com Santa Bárbara na visão popular, mas por certo não é um mito cristão, motivo mais que suficiente para que as autoridades eclesiásticas se opusessem à entrada do herói no sagrado recinto. Zé-do-Burro não esmorece. Sua obstinação, sua fé, conduzem a um dos mais empolgantes desfechos do teatro contemporâneo - e universal. O Pagador de Promessas: serviu de tema ao filme do mesmo título, ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1962.

     Sou bem eclético em minhas leituras, leio de tudo, e dificilmente não gosto do livro, porque sempre consigo encontrar algum ponto positivo na leitura, mas se posso citar algumas preferências, dentre elas, sempre estará o drama (dramas verdadeiros, nada de sentimentalismo forçado) e literatura brasileira, porque para mim é como uma viagem no tempo, mostrando as diferenças sociais, que não são poucas, me levando através da história do Brasil em suas diversas épocas. E esse livro meio que caiu em minha mão, porque já tinha assistido a peça (e adorado cada momento), mas não sabia que possuía o livro, e um belo dia, arrumando minha biblioteca, o encontrei. E fiquei de lê-lo assim que possível. E a hora chegou.

     O Pagador de Promessas se trata de uma peça de teatro, com cenários, movimentações de palco e personagens pré-definidos, e é um tanto quanto diferente para quem não esta acostumado com esse estilo. Mas com certeza, isso não desabona em nada a estória, que é perfeita.

     Tudo começa, quando Zé-do-Burro, um homem simplório e bruto do interior da Bahia, acompanhado de sua esposa Rosa, chegam em frente a capela de Santa Barbara com uma cruz nas costas depois de caminhar sessenta léguas para pagar uma promessa, pois seu amigo Nicolau, depois de quase morrer com um galho na cabeça, num dia de chuva, depois de várias rezas e tentativas em vão, voltou a viver, e ele, católico e justo não queria ficar devendo nada pros santos, teve medo de descumprir o que prometeu, voltar pro sítio e encontrar o amigo morto.
     Entretanto, existe um problema que não quer deixá-lo cumprir a promessa: seu amigo, Nicolau, não é humano, e sim um burro, de quatro patas, com alma de gente (segundo Zé) e no auge do desespero, Zé acabou indo à um terreiro de Candomblé e fez a promessa à Iansã (santa orixá correspondente a Santa Barbará da religião africana), pois, em sua ingenuidade, julgou ser a mesma coisa, mas que para o padre Olavo, somente significou que Zé pecou, procurou o milagre e não a Deus, e acabou caindo em tentação, o que o levou a proibir a entrada da cruz (consagrada a Santa Barbara) na igreja, impedindo a conclusão da promessa.

     E com isso completa o dilema principal da estoria, outros personagens vão aparecendo, todos querendo ajudar, mas acima de tudo, querendo tirar algum proveito da situação. Seja financeiramente, socialmente ou politicamente, e com sua inocência do sitio, Zé não conseguiu ver a maldade por trás das “boas” pessoas. Um ou outro realmente quis ajudar, mas no meio da balburdia causada pela imprensa, e pelas distorções das conversas, não conseguiam exito.

Eparrei, minha mãe! Pág. 172

     Com certeza, uma das melhores tramas brasileira, tanto que ganhou o prêmio Palma de Ouro no festival de Canes, li o livro todo em 4 horas, com breves paradas e com uma necessidade incrível de terminar (mesmo sabendo o final) pois é simplesmente angustiante acompanhar o desfile das falas sem poder interferir, temendo pelo fim iminente. O que mais marcou pra mim foi a firmeza de Zé, resistindo até o fim se vender pela aceitação, mantendo seus ideais e sua moral até o final e defendendo o que achava certo. E no final, no ritmo alucinante dos fatos, simplesmente fiquei todo arrepiado. Excelente. 


5 comentários:

  1. Gabriel, acredita que ontem mesmo estava na faculdade quando minha amiga mencionou esse livro e eu fiquei super curiosa em lê-lo? Não preciso dizer nada que já está na minha lisitinha de compras futuras. Ótima resenha, aliás!

    Beijos,
    Caroline, do http://criticandoporai.blogspot.com

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    1. Carol, acredito, e digo mais, é um sinal para voce lê-lo. kkkk
      Vale a leitura, um grande classico que simplesmente escorrega na mão.

      Obrigado pelo elogio. ^^
      Bjo

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  2. Nunca ouvi falar do livro, confesso que não me interesso muito por obras nacionais, tirando autores consagrados, como Clarice Lispector e Machado de Assis. Não conhecia a obra, achei interessante, mas não faz parte das minhas preferências literárias.
    Ótima resenha ><

    Beijos
    http://mon-autre.blogspot.com.br

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    Respostas
    1. Jeniffer. Eu gosto de todo quanto é tipo de leitura, mas é meu lado protecionista que me faz gostar. Ja leu Jorge Amado - Capitães da Areia? é um dos meus livros preferidos. E muda grande parte de nossa visão sobre a qualidade literária nacional.

      Bjo. E obrigado por comentar.

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  3. Oi, Gabriel!
    Adorei a dica, te confesso que não conhecia a obra, mas mais interessada impossível <3
    Uma das minhas metas para esse ano é ler mais obras nacionais, ainda que eu aprecie imensamente nossa literatura e leia bastante até, pretendo conhecer novas escritas. Anotei a dica.


    Beijo,
    Sofia - Lendo de Tudo

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